domingo, 30 de agosto de 2015

Boneca Cobiçada (1956)

Boneca Cobiçada

(Letra: Bolinha / Música: Biá / Interpretes: Palmeira & Biá)



Quando a dupla sertaneja Palmeira (apelido de Diogo Mulero) e Biá (apelido de Sebastião Alves da Cunha) gravaram a música “Boneca cobiça” em 1956, eles já faziam certo sucesso e tinham alguns anos de “estrada”. A dupla se juntou em 1952 em São Paulo, depois que Palmeira desfez a dupla com Luizinho e Biá desfez a dupla com Mariano.


Palmeira & Biá
Neste mesmo ano, foram convidados pela rádio Piratininga para fazer um programa semanal, todas as terças-feiras às 21h. Rádio esta que teve em seu elenco, artistas famosos como Raul Torres, Tonico e Tinoco, Silvio Santos, Manuel de Nóbrega, Boris Casoy entre outros.

Em 1956, Palmeira e Biá faziam parte do elenco contratado da gravadora RCA Victor (atual Sony Music). Desde o início, a gravadora se especializou em atuar numa faixa de mercado mais popular, especialmente com a música regional. Foi quando a gravadora decidiu criar um novo departamento para investir no gênero sertanejo e convidou o Palmeira, para ser o Diretor Artístico. Desta forma, Palmeira decidiu encerrar a parceria que tinha com Biá e isto marcou o fim da dupla.

Biá continuou cantando sozinho, quando em contato com o seu amigo Bolinha (o compositor Euclides Pereira Rangel), combinaram dele fazer participações num circo que o Bolinha era sócio na região de Presidente Prudente (interior de São Paulo). A apresentação iniciava com o Biá cantando sozinho e encerrava com um trio composto pelo próprio Bolinha, uma sanfoneira de nome Maria Helena e por Biá.

Bolinha é o autor da letra da música “Boneca cobiçada”, que na época ainda se chamava “Enganada” e pediu à Biá que fizesse a música. Por sugestão de Bolinha, ele inicialmente tentou utilizar o ritmo da Guarânia (gênero musical de origem paraguaia muito utilizada em músicas sertanejas na época), mas depois de algumas tentativas observou que a condução não combinava com história, então decidiu utilizar na melodia o ritmo do Bolero, ritmo este que ele tocava muito em sua juventude e em casas noturnas na sua cidade natal (Coromandel-MG), que fazia muito sucesso na época. Com a junção do bolero à música sertaneja, surgiu um novo ritmo chamado de Bolero Sertanejo ou Bolero de Dueto. Não demorou muito e a nova canção se tornou um grande sucesso na região.

Oito meses depois, vendo que o trabalho na Gravadora não atendia suas expectativas, Palmeira procurou Biá, pedindo para se reconciliarem e voltarem com a Dupla, foi quando Biá apresentou a música ao parceiro.

Depois desta mudança de rumo, parecia que a carreira dos músicas voltava ao prumo, porém o maior desafio viria a seguir, gravar a nova música. Quando se preparavam para a gravação do novo disco, encontraram resistência por parte dos diretores da gravadora, porque na opinião deles não combinava uma dupla sertaneja gravar um bolero. Então, Palmeira convenceu Biá de que gravassem outras músicas que já haviam sido trabalhadas na escolha do repertório do disco.

Naquela época, os discos eram gravados no formato de 78 rotações (78 rpm), que tinha a capacidade de cerca de cinco minutos de música em cada lado. Então, devido a esta limitação eram prensados apenas duas músicas por disco. Foi neste formato que a dupla lançava naquele mesmo ano de 1956 um disco contendo as músicas “Menino Pobre” e “Recordações de Mato Grosso”.



Após o lançamento do disco, a fim de divulgar o novo trabalho, Palmeira e Biá participavam de muitos programas de rádio cantando suas músicas, entre elas o novo ritmo. Diante do sucesso, a dupla começou a receber diversas cartas pedindo a gravação da canção Boneca Cobiçada. Foi então que Palmeira foi até o Diretor da gravadora, Jairo Rodrigues, e despejou as cartas recebida dos fãs sobre a mesa dele, a fim de convencê-lo a gravar a música. Surpreendido pela situação, o Diretor não viu outra forma senão atender o seu pedido. Então, enviou a dupla imediatamente ao Rio de Janeiro (nesta época, os discos eram gravados nesta cidade), para realizar a gravação do “novo sucesso”.

Feito a gravação, a dupla viajou para o estado do Mato Grosso, a fim de atender uma agenda de shows. Vinte dias depois, quando voltaram à São Paulo, a gravadora informou à eles que já haviam vendido cerca de 50.000 cópias do disco, surpreendendo assim até os próprios cantores.

No total, o disco vendeu mais de 500.000 cópias e tornou-se um clássico da MPB, pois incluiu novas temáticas, instrumentos e arranjos.

A música Boneca Cobiçada já foi interpretada e regravada por diversos artistas entre os quais, Carlos Galhardo - um dos grandes cantores da era do rádio, conhecido como o Rei do Disco (Disco: 78rpm contendo as músicas Boneca Cobiçada/Morreu meu Coração – Ano: 1957). Pedro Bento e Zé da Estrada (Disco: Os Amantes da Rancheira – Ano: 1998) e Milionário e José Rico (Disco: Milionário & José Rico, Vol 23 – Ano: 1999).





Fontes:

  • Site: Dicionário Cravo Albin da música popular brasileira – www.dicionariombp.com.br
  • Site: São Paulo Minha Cidade – www.saopaulominhacidade.com.br
  • Texto: Chantecler: Uma gravadora Popular Paulista – Eduardo Vicente – Univ. de S. Paulo, SP
  • Artigo: Chantecler: O primeiro a ser ouvido – Blog: Revivendo Teixeirinha por Chico Cougo – revivendoteixeirinha.wordpress.com
  • Site: Letras - http://letras.mus.br/
  • Programa Viola Minha Viola: Entrevista com Biá – Jul/1980



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